domingo, agosto 07, 2011

#Forever Alone#

  Naquela manhã, Ramon acordou ao lado de Alícia, após uma noite perfeita, ele muito contente a beijou e foi para o banho. Quando estava pronto para sair, acordou-a e lhe serviu o café-da-manhã na cama, ela com um belo sorriso agradeceu e ele saiu.
O dia para Ramon não poderia ser melhor, ele que estava estagiando Economia, havia feito um relatório sobre a gestão do Estado e recebera a noticia de que seu relatório iria ser apresentado ao governador na semana seguinte, para ele tal acontecimento lhe trazia muita felicidade, afinal, seu trabalho estava crescendo e sendo reconhecido, sabia que a partir dali não seria apenas um estagiário comum, e sim, o 'dono do melhor relatório econômico feito sobre o Estado'.
Seu supervisor lhe dara os parabéns por tal feito, e com um singelo abraço se despediram.
Ao chegar em casa, Ramon notou um estranho silêncio, ainda segurando a chave na porta sentiu uma pontada em seu peito, e por um segundo, teve a certeza de que não era a sua saúde que estava mal. Entrou correndo buscando por Alícia.

-Alícia?! Cadê você?- sua voz tinha um som trêmulo. Neste momento encontrou a porta do banheiro semi-aberta, entrou e pode ver o corpo nu de Alícia jogado no box, havia muito sangue pelo banheiro, na pia havia um estilete e, quando chegou perto de seu corpo pode ver que o que mais sangrava era sua cabeça. Deduziu então que ela havia tentando cortar os pulsos na pia, porém começou a se sentir tonta, cambaleando caiu batendo com a cabeça no mármore que dividia o box do restante do banheiro.
-O que você fez, Alícia?- Ele tomou seu corpo nos braços e sentiu que seu coração batia fracamente, levou-a para a cama e ligou para Fêlix, seu amigo enfermeiro que cuidara dela em momentos de crise.
-Oi Fêlix, sou eu Ramon. Por favor vem para cá depressa, ela fez de novo.
-Como ela fez desta vez? Está acordada?
-Não, desta vez foi pior, ela está desmaiada, tem muito sangue, ela tentou cortar os pulsos e bateu a cabeça. - Fêlix, naquele momento passou instruções para Ramon fazer enquanto não chegava, ele desesperado largou todo o seu momento de folga e foi ao socorro de Alícia.
Ramon seguira as instruções e conseguiu acordá-la, chorando ao seu lado, buscava compreender o que ela pensava.
-Alícia, por quê? Não consigo compreender, por mais que tente eu não consigo. Ajude-me, diga-me onde estou fracassando... Já não sei mais o que fazer. -As lágrimas rolavam sem cessar, meu coração batia dolorosamente e suas mãos tremiam.
-Ramon, não sou boa para você, queria me sentir plena... Mas essa dor não me deixa. - Sua voz debilitada era mais um sussuro.
Fêlix chegara naquele instante, entrou no quarto e viu o quanto a vida do amigo estava sendo arruinada, mesmo adorando Alícia, devido aos anos vividos na época da adolescência e aos momentos em que ele pode confiar que ela seria tudo o que Ramon precisava para evoluir na vida, soube que nada seria capaz de mudar seu estado agora - ela estava se entregando a dor da depressão que se abateu sobre ela após a morte da mãe - porém Ramon não queria aceitar isso, não queria interná-la mesmo sendo o melhor a se fazer, ele queria estar com ela e achava que dependia dele a melhora de seu estado. Fêlix por várias vezes tentou convencer o amigo, mas era cego pelo amor, mesmo sofrendo não perdia as esperanças, foi quando ele se pôs a ajudar nas crises de Alícia, que durante muitos meses viveu entre a loucura e a realidade, seus dias eram sempre assim, de manhã sorria e a noite desejava morrer.
Fêlix cuidou de sua pancada na cabeça, de seus cortes nos pulsos, de seus diversos arranhões causados pelas unhas dela mesma, embora achasse um círculo vicioso aquela batalha com ela mesma, ele tentava manter a mente de Alícia na realidade.
-Sabe o que vi hoje na tv? O show daquela cantora que você adora, quem sabe não podemos ir quando a turnê passar pelo Estado?! Você iria adorar, ela está com cabelo rosa desta vez, e sem falar das roupas. Ah! Você poderia mandar produzir aquela jaqueta que desenhou e levamos para ela no dia do espetáculo, eu faria de tudo para te levar no camarim, pode acreditar!
-Você é muito bom comigo, Fêlix, só que não acho que estarei bem desses ferimentos até lá. 
-Vai estar ótima, não pense assim, vou cuidar bem de você, só quero que me prometa que vai achar o desenho, assim poderemos confeccionar e elaborar o nosso presente. Tá certo?! 
-Pode deixar então, eu vou procurar. - Alícia era muito boa estilista, ela criava roupas e até chegou a ter uma loja, ganhou muito dinheiro, mas então veio a morte de sua mãe e ela abandonou todos os sonhos, Fêlix sabia que desenhar era o que dara mais prazer a ela e sempre que podia tentava fazer com que ela voltasse a criar.
Ele saiu do quarto, chamando Ramon para conversar.
-Ramon, sabe o que acho não sabe?!
-Sei sim, amigo! Mas não o farei, ela precisa de mim.
-Olha para você, se continuar com isso, quem precisará de ajuda é você e não ela.
-Fêlix eu a amo mais do que tudo nesta vida, não saberei viver se ela estiver internada como uma doente mental, eu não posso... - Ele começou a chorar novamente, começava a sentir a verdade penetrar uma mente, sabia que o estado de Alícia não melhoraria assim e a cada dia as crises eram mais fortes.
-Ramon, ela não é doente, ela está doente, sabe disso tanto quanto eu. Sabe que a amo assim como você, mas ela precisa de uma ajuda qu você não é capaz de fornecer.
-Fêlix, me deixe pensar por favor, prometo que desta vez levarei em conta todos os fatores. E obrigada mais uma vez.- Ele abraçou o amigo, sabendo que a resposta que eles sentiam agora era a mesma.
Voltou para o quarto, sentou-se ao lado dela e acariciou seu rosto.
-Alícia, sabe o quanto eu a amo?! Eu te amo desde o momento em que te vi, desde a infância, desde aquele Natal, desde as minhas imaturidades e até mesmo quando você viajou para longe, nunca deixei de te amar, mas agora eu preciso demais de você e mesmo sabendo que não é sua culpa, sei que o que tenho não é suficiente. Espero que não se zangue comigo, mas estou tentando fazer o que é melhor pelo nosso amor até porque não há nada no mundo que seja tão importante em minha vida quanto você é, e por isso decidi ouvir o Fêlix e queria que você se internasse por conta própria, não quero que seja a força. Você é a minha luz, a minha motivação e não posso te ver desistir de viver sem fazer tudo o que está a meu alcance.
-Ramon...
Ele não conseguia olhar em seus olhos, sentia que aquilo poderia acelerar a sua morte, mas ele precisava tentar tudo, pois não havia mais o que ele pudesse fazer.
-Oi, meu anjo...
-Leve-me para o hospital.

"Repito por pura alegria de viver, a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena"
(Clarice Lispector)

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